Muito além da automação: os impactos da Indústria 4.0

26/04/2021
Imagem: Prostock-studio, de envatoelements
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A implementação das ferramentas da indústria 4.0 podem gerar uma economia de até R$ 73 bilhões ao ano, segundo a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Destes, R$ 35 bilhões com o uso da inteligência artificial para a manutenção de equipamentos, R$ 31 bilhões com ganhos de eficiência e R$ 7 bilhões com economia de energia.

Este sistema, que se utiliza de tecnologias físicas, biológicas, digitais, Internet das Coisas e computação em nuvem traz o que mais agrega valor ao mercado: melhorias, aumento da produtividade dos processos e inovação.

Das primeiras revoluções para a indústria 4.0
Atualmente, a História divide as Revoluções Industriais em três etapas. A primeira (metade do século XVIII) se baseia na invenção da máquina a vapor e sua aplicação na produção têxtil, o que causou certas mudanças na sociedade e na economia da época.

A indústria 2.0 ocorreu na metade do século XIX e é caracterizada pela descoberta da eletricidade e das linhas de montagem que aceleraram, e muito, o tempo de produção. Com o avanço de técnicas, as empresas passaram a aproveitar o grande potencial de mudança para evoluírem e se atualizarem. Entretanto, máquinas, uma vez que são operadas por seres humanos, podem errar.

A terceira fase deu início logo após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e apresentava processos tecnológicos decorrentes de uma integração entre ciência e produção, também chamada de revolução tecnocientífica.

Esses períodos trouxeram diversos elementos, elevando a renda dos trabalhadores e fazendo da competição tecnológica o cerne do desenvolvimento econômico. Por isso, a indústria 4.0, que vem a seguir, tem tudo para causar um impacto mais profundo e exponencial.

As nuances do desenvolvimento tecnológico e industrial
A Deloitte, empresa multinacional de auditoria, patrocinou um documentário, lançado este ano, sobre o que permeia a evolução da economia calcada na tecnologia.

O longa mostra como as transformações vão além da automação, a necessidade de se pensar na cadeia produtiva como um todo e o fato de que esse fenômeno não perdeu força por conta da pandemia de Covid-19.

Este cenário se dá devido à exposição dos problemas e das fragilidades enfrentadas pelos indivíduos. A partir desse momento, foi criada uma consciência de que é fundamental resolver essas questões. Com a capacidade de conexão, isso se tornou muito mais rápido.

Neste ponto, há a junção dos dois principais feitos da Primeira e da Segunda Revolução Industrial: o ganho de produção em larga escala com a possibilidade de customização. Esse processo consiste na digitalização da indústria a fim de tirar vantagem do que já está automatizado e melhorar o que apresenta falhas.

Em suma, de acordo com os especialistas consultados pela produção audiovisual, é um novo arranjo para comprar insumos, vender soluções e cativar clientes. Nesse caso, é possível prever alterações na organização da empresa por meio de quatro passos:

    Transparência do chão de fábrica com investimentos em sensores para geração de big data;
    Visualização dos dados e tomada de decisões;
    Utilização dessas informações para inserir algoritmos de inteligência artificial nos processos;
    Estabelecimento da inteligência cognitiva, com máquinas capazes de assimilar conhecimento e agir de forma autônoma.

Certas empresas estão mais avançadas do que outras neste processo devido ao timing em relação ao lançamento do conceito, em 2011 na Alemanha, ou ao fato de que acreditavam que esta era apenas mais uma buzz word.

As companhias que estão atentas e iniciaram a implementação há um tempo podem fazer uso de algumas vantagens, como as elencadas abaixo por Eduardo Raffaini, sócio e líder de Capital Projects & Asset Transformation da Deloitte.

    Integração vertical e horizontal na cadeia de produção;
    Aumento da produtividade (melhora na capacidade de escalar produtos e serviços);
    Atendimento das necessidades dos clientes como indivíduo mesmo quando se tem uma produção em larga escala;
    Redução nos custos (compra, produção e logística);
    Uso racional e otimizado das fontes de energia (eletricidade, água, ar-comprimido e vapor);
    Tomada de decisão rápida e eficiente com base em dados;
    Melhoria absurda na manutenção de ativos;
    Dados operacionais em tempo real na palma mão, em todo tempo e em qualquer lugar;
    Melhoria na qualidade dos produtos e serviços;
    Redução do downtime e do lead time.
 
Para tanto, será essencial repensar e tornar a relação com o cliente mais próxima e, sobretudo, vender não somente serviços, mas resultados. Além disso, a indústria 4.0 difere da 3.0, porque orquestra soluções de problemas, seja por meio da rastreabilidade, redes em satélites ou produtos integrados que ofereçam experiências além das convencionais.

Com o alto investimento neste novo modo de pensar, as indústrias atraem investidores estrangeiros, que veem segurança nessas tecnologias: é viável identificar a necessidade de manutenções preventivas, preditivas e prescritivas.

“No momento, pessoas e organizações estão bem informadas e está crescendo o nível de maturidade. Estamos na curva da mudança, tivemos um hype e agora estamos vivenciando o pós-hype com ações concretas e um público familiarizado com o tema. As empresas estão procurando o caminho da transformação digital como principal ferramenta para alavancar negócios, otimizar ganhos e trazer a visão de perenidade”, frisa o especialista.

As tendências para os próximos anos
A indústria 4.0 ainda está em desenvolvimento, mas segundo o documentário e o sócio e líder de Capital Projects & Asset Transformation da Deloitte, já é possível elencar caminhos a serem levados em consideração para quem pretende saber mais sobre o assunto ou até mesmo investir:

Fuja das ilhas
A indústria 4.0 só se efetiva se há uma integração das companhias de toda a cadeia produtiva. Se os sistemas forem implantados apenas internamente, o conceito não está sendo praticado corretamente e esse cenário pode ser chamado de ilha. Mantenha distância dele.

A necessidade da mão de obra qualificada
É provável que determinados avanços tecnológicos substituam a mão de obra humana que realiza tarefas repetitivas. Dessa forma, especialistas acreditam que a saída é investir em upskilling e em programas educacionais vinculados aos setores industriais e inovadores.

Ou seja, a automação ocupa algumas funções, mas oferece outras, como as que envolvem o reconhecimento de técnicas e emoções. A inteligência emocional entra em cena e coloca a habilidade de trabalhar com pessoas em xeque.

Respeito aos dados dos clientes
Com tantos dados circulando em nuvem e com a presença digital em ascensão, as empresas devem ser cautelosas quanto à proteção de informações pessoais dos clientes para evitar vazamentos e problemas judiciais.

Digitalização e economia circular
O futuro é digital e a economia circular, ao invés da linear, são chaves para alcançar objetivos de modo mais assertivo e sustentável. Refletir sobre o seu papel no mundo, reduzir a degradação do meio ambiente e pensar nos impactos do que você vende é indispensável.

Intersecção entre tecnologia e sociedade
A indústria 4.0 aplicada de forma ideal engloba diversos processos automatizados, como big data, machine learning, inteligência artificial, digital twins, augmented reality, virtual reality, blockchain e IoT.

“Estamos falando da empresa, de fato, conectada, de smart manufacturing a fábrica inteligente integrada, agregando valor às organizações e aos clientes. Com isso inserido na sociedade 5.0, avançaremos de maneira exponencial para o futuro”, finaliza Eduardo Raffaini.

fonte: Consumidor Moderno, escrita por Amanda Medeiros